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segunda-feira, novembro 28, 2005

"Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra amigo!

"Amigo" é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!

"Amigo" (recordam-se vocês aí,
Escruplosos detritos?)
"Amigo" é o contrário de inimigo!
"Amigo" é o erro corrigido
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade, partilhada, praticada!

"Amigo" é a solidão derrotada!
"Amigo" é uma grande tarefa,
É uma tarefa sem fim,
Um espaço sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
"Amigo" vai ser, é já uma grande festa!"

Alexandre O'Neill

sexta-feira, novembro 25, 2005

"Impetuoso, o teu corpo é como um rio
onde o meu se perde.
Se escuto, só oiço o teu rumor.
De mim, nem o sinal mais breve.

Imagens dos gestos que tracei,
irrompe puro e completo.
Por isso, rio foi o nome que lhe dei.
E nele o céu fica mais perto."

Eugénio de Andrade

quinta-feira, novembro 24, 2005

" Ser culto é ser de um sitio."

(Esta frase, ou pensamento, ouvi-a hoje durante a II Conferência do Atlântico que tinha como tema "Competitividade e sustentabilidade dos destinos turísticos". Durante as várias sessões foram abordados vários sub-temas, embora todos eles convergissem para o grande tema. Esta frase foi dita por um dos oradores, aquele que abordou várias aspectos relacionados com a cultura e a correlação com o turismo. Achei interessante a reflexão, por isso partilho com vocês. É ou não verdade que cada região tem a sua própria cultura?!)

terça-feira, novembro 22, 2005

"Ontem, passei nas ruas como qualquer pessoa.
Olhei para as montras despreocupadamente
E não encontrei amigos com quem falar.
De repente vi que estava triste, mortalmente triste.
Tão triste que me pareceu que me seria impossivel
Viver amanhã, não porque morresse ou me matasse,
Mas porque seria impossível viver amanhã e mais nada."

Álvaro de Campos

" A vida, querido Máximo, tem-me ensinado que nenhuma coisa é simples, que só às vezes o parece, e que é justamento quando mais o parecer que mais nos convirá duvidar."

José Saramago - O Homem Duplicado

sexta-feira, novembro 18, 2005

" Quando olho para mim não percebo.
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.

O ar respiro, este licor que bebo,
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei se hei de concluir
AS sensações que a meu pesar concebo.

Nem nunca, propriamente reparei,
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço em mim? Serei

Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente."

Álvaro de Campos

terça-feira, novembro 15, 2005

" Pois que nada que dure, ou que durando,
Valha, neste confuso mundo obramos,
E o mesmo útil para nós perdemos
Connosco, cedo, cedo,

O prazer do momento anteponhamos
À absurda cura do futuro, cuja
Certeza única é o mal presente~
Com que o seu bem compramos.

Amanhã não existe. Meu somente
É o momento, eu só quem existe
Neste instante, que so pode o derradeiro
Ser de quem finjo ser?"

Ricardo Reis

quarta-feira, novembro 09, 2005

" A brisa voga no prado,
Perfume nem voz não tem.
Quem canta é o ramo agitado.
O aroma é da flor que vem.

Pouco importa de onde a brisa
Traz o olor que nela vem.
O coração não precisa
De saber o que é o bem."

Fernando Pessoa

terça-feira, novembro 08, 2005

Nada me prende a nada.
Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angústia de fome de carne
O que não sei que seja -
Definidamente pelo indefinido...
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irriquieto, metade a sonhar.

Lisbon Revisited (1962) - Álvaro de Campos

quinta-feira, novembro 03, 2005

" O caos é uma ordem por decifrar."

José Saramago- O Homem Duplicado

quarta-feira, novembro 02, 2005

Até agora eu não me conhecia,
Julgava que era Eu e eu não era
Aquela que em meus versos descrevera
Tão clara como a fonte e como o dia.

Mas que eu não era Eu não o sabia
E, mesmo que soubesse, o não dissera...
Olhos fitos em rútila quimera
Andava atrás de mim...e não me via!

Andava a procurar-me - pobre louca! -
E achei o meu olhar no teu olhar,
E a minha boca sobre a tua boca!

E esta ânsia de viver, que nada acalma,
É a chama da tua alma a esbrasear
As apagadas cinzas da minha alma!

Florbela Espanca