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quarta-feira, janeiro 18, 2006

"No meu interior, dentro de todas as minhas sombras, existe ainda o teu rosto a olhar-me. Entre tudo aquilo que tenho de fazer, que tenho sempre de fazer, todos os dias, sempre, suspendo-me por um instante e vejo-te, dentro de mim, ainda a olhar-me. É esse o momento em que acredito que posso estender uma mão dentro de mim próprio e, de novo, passá-la pelo teu rosto, pelos teus cabelos, desenhar as tuas sobrancelhas com os dedos, os teus lábios.E em tudo o que faço, apenas espero."

José Luís Peixoto-Espera

sexta-feira, janeiro 06, 2006

" Um dia
Um dia a maioria de nós irá separar-se.
Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora,
das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos,
dos tantos risos e momentos que partilhamos.
Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia,
das vésperas dos finais de semana, dos finais de ano, enfim...
do companheirismo vivido.

Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.
Hoje não tenho mais tanta certeza disso.
Em breve cada um vai para seu lado, seja
pelo destino ou por algum desentendimento,
segue a sua vida.
Talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe...nas cartas que trocaremos.

Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices...
Aí, os dias vão passar, meses...anos...até este contacto se tornar cada vez mais raro.
Vamo-nos perder no tempo...
Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias
e perguntarão:
"Quem são aquelas pessoas?"

A saudade vai apertar bem dentro do peito.
Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...

Quando o nosso grupo estiver incompleto...
reunir-nos-emos para um último adeus de um amigo.

E, entre lágrimas abraçar-nos-emos.
Então faremos promessas de nos encontrar mais vezes
daquele dia em diante.

Por fim, cada um vai para seu lado para continuar a viver a sua vida,
isolada do passado.

E perder-nos-emos no tempo...

Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida
passe em branco,
e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades...

Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem
morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se
morressem todos os meus amigos!"

Fernando Pessoa

(Infelizmente, não tenho muita certeza quanto à autoria deste texto, segundo a minha pesquisa será de Fernando Pessoa, caso não seja peço desculpa e agradeço que me corrijam.)

quarta-feira, janeiro 04, 2006

"São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?"

As palavras-Eugénio de Andrade