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domingo, novembro 26, 2006

Estou sujeito ao tempo sou este momento
perguntam-me quem fui e permaneço mudo
o tempo poisa-me nos ombros em relento
partiu no vento essa mulher e perdi tudo .

Já não virá ninguém por muito que vier
em vão esperei a rosa da minha roseira
quando um pássaro sai dos olhos da mulher
é porque ela é de longe e não da nossa beira

Resta-me um sonho desconexo e desconforme
Na haste da camélia que o vento quebrou
jamais a vida branca como ela dorme
Eu era essa camélia e nunca mais o sou

A minha vida é hoje um sítio de silêncio
a própria dor se estreme é dor emudecida
que não me traga cá notícias nenhum núncio
porque o silêncio é o sinónimo da vida

O mundo para além dessa mulher sobrava
tudo vida vulgar tumultuária e cega
o brilho do olhar equilibrava a chuva
nas suas costas hoje toda a luz se apaga.

Mulher que um golpe de ar me pôde arrebatar.
enfim não existia ou só ela existia
Asas que ela tivesse deixou-as queimar
e tê-la-á levado estranha ventania

Daqueles traços fisionómicos de pedra
não quero já ouvir a voz que às vezes vem
na calma destacada por um cão que ladra
Não há ninguém perto de mim sinto-me bem

Cada casa que roço é escura como um poço
se sou alguma coisa sou-o sem saber
sossego solitário sem mistério isso
talvez tivesse sido o que sempre quis ser

As flores vinham nela e era primavera
mas tanto a nomeei e tanto repeti
erros numa estratégia imprópria para ela
tamanho amor expus que cedo a consumi

A noite quando ao fim descer decerto há-de
ser certa solução. Foi há muito a infância
Ao tempo o que tu tens tu bem o sabes cede
estendo as mãos talvez te fique a inocência

A vida é uma coisa a que me habituei
adeus susto e absurdo e sobressalto e espanto
A infância é uma insignificância eu sei
e apenas por a ter perdido a amamos tanto

Estou sozinho e então converso com a noite
das palavras que nos subjugam nos submetem
As coisas passam e em vez delas é aceite
o nosso sistema de signos onde as metem


Esta minha existência assim crepuscular
devida àquela que é rastos destroços restos
acusa hoje alguma intriga consular
de quem não tem cabeça a comandar os gestos

Foi uma rosa rubra a autora desta obra
aberta e arrogante grácil flor do instante
que triunfante não há coisa que não abra
para ferir quem a viu e morrer de repente

E noite sou e sonho e dor e desespero
mero ser sórdido e ardido e encardido
mas já não tarda a abrir-se na manhã que espero
um arco com vitrais aos vendavais vedado

E embora a minha fome tenha o nome dela
e da água bebida na face passada
não peço nada à vida que a vida era ela
e que sei eu da vida sei menos que nada.

Ruy Belo

8 Comments:

  • Intenso, belo, e triste...

    ….(`“•.¸(`“•.¸ ¸.•“´) ¸.•“´)
    ….(¸.•“´(¸.•“´ `“•.¸)`“ •.¸)
    ......d88888bd888b.
    .....d8888888888888B.
    .....888888P`Y8888P.
    .....Y888888.....( , \_.
    ....,_Y88(.................)....*Passo para te ler...
    ....Y888888b.......__\..
    .....“8“888P........(_.... para saber como estás...
    .............|.....----“..
    ...........~;~~\~..... * Para te deixar um beijo
    ............=......\....
    ..........(_._).....\.....
    ...........|=|........\...
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    ...,.-“---/_/--------“---.....
    ...`-.,_________,.--“..
    ..........|......|.|........
    ..........|___|.|...
    ..........|___|.|............ e desejo boa semana!!!!
    (`“•.¸(`“•.¸ ¸.•“´) ¸.•“´)
    «`“•.¸.♥ Nadir ♥ ¸.•“´»
    (¸.•“´(¸.•“´ `“•.¸)`“ •.¸)

    By Blogger Carla, at 26 novembro, 2006 13:30  

  • Estive lendo o poema. Muitas quadras, compreendê-lo requer muita atenção e concentração, compreendê-lo na totalidade o que é impossível.
    Deduzo que se trata de um lamento peranto o abandono por uma mulher. Aqui começa a complicação. Possívelmente quando esse abandono aconteceu, já a mesma tinha sido abandonada.
    Fica bem.
    Beijinhos.
    Manuel

    By Blogger DE-PROPOSITO, at 26 novembro, 2006 16:06  

  • "não peço nada à vida que a vida era ela e que sei eu da vida sei menos que nada"

    :)

    By Blogger ricardo, at 28 novembro, 2006 12:37  

  • Linda poesia !
    Bjs

    By Anonymous Anónimo, at 28 novembro, 2006 15:23  

  • Oi, amiga, vim te deixar um beijo!

    By Blogger Vica, at 30 novembro, 2006 11:44  

  • não percas
    a vida é importante e saber trilhá-la mais importante é
    ...

    :)

    By Blogger K'os, at 30 novembro, 2006 14:07  

  • Olá Ana!!

    Nunca mais te vi por aqui!
    Está tudo bem contigo?

    Boa noite
    Beijinhos

    By Blogger rui, at 03 dezembro, 2006 15:02  

  • ............♥
    ...........***
    ..........*****
    .........*Bom*
    ........***Fim***
    ......*****De*****
    .....***Semana***
    ....****************
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    ..........****
    ..........****
    ..........****
    ....(`“•.¸ ¸.•“´)
    .....♥ Nadir ♥ .
    ....(¸.•“´ `“•.¸)

    By Blogger Carla, at 09 dezembro, 2006 15:14  

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