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sábado, junho 17, 2006

Barco Negro

De manhã, que medo que me achasses feia,
acordei tremendo deitada na areia.
Mas logo os teus olhos disseram que não!
E o sol penetrou no meu coração.

Vi depois numa rocha uma cruz
e o teu barco negro dançava na luz...
Vi teu braço acenando entre as velas já soltas...
Dizem as velhas da praia que não voltas.

São loucas... são loucas!

Eu sei, meu amor, que nem chegaste a partir,
pois tudo em meu redor me diz que estás sempre comigo.

No vento que lança areia nos vidros,
na água que canta no fogo mortiço,
no calor do leito dos bancos vazios,
dentro do meu peito estás sempre comigo.

David Mourão-Ferreira

Hoje postei este poema como forma de homenagear David Mourão-Ferreira, pois ontem fez dez anos do seu desaparecimento. Este poema foi mais tarde interpretado por Amália num dos seus fados e posteriormente por Mariza.
Breve Biografia do Poeta:
Escritor e professor universitário português, natural de Lisboa. Licenciou-se em Filologia Românica em 1951.
Em 1963 foi eleito secretário-geral da Sociedade Portuguesa de Autores e, já nos anos 80, presidente da Associação Portuguesa de Escritores.
Logo após o 25 de Abril de 1974, foi director do jornal A Capital.
Secretário de Estado da Cultura em vários governos entre 1976 e 1978, foi também director-adjunto do jornal O Dia entre 1975 e 1976.
Responsável pelo Serviço de Bibliotecas Itinerantes e Fixas da Fundação Calouste Gulbenkian a partir de 1981, dirigiu, desde 1984, a revista Colóquio/Letras, da mesma instituição.
A sua carreira literária teve início em 1945, com a publicação de alguns poemas na revista Seara Nova.
Três anos mais tarde, ingressou no Teatro-Estúdio do Salitre e no Teatro da Rua da Fé.
Publicou as peças Isolda (1948), Contrabando (1950) e O Irmão (1965). Em 1950, foi um dos co-fundadores da revista literária Távola Redonda, que se assumiu como veículo de uma alternativa à literatura empenhada, de realismo social, que então dominava o panorama cultural português, defendendo uma arte autónoma.
Em 1950, publicou o seu primeiro volume de poesia — Secreta Viagem. David Mourão-Ferreira colaborou ainda nas revistas Graal (1956-1957) e Vértice e em vários jornais, como o Diário Popular e O Primeiro de Janeiro.
Entre os seus livros de poesia encontram-se Tempestade de Verão (1954, Prémio Delfim Guimarães), Os Quatro Cantos do Tempo (1958), In Memoriam Memoriae (1962), Infinito Pessoal ou A Arte de Amar (1962), Do Tempo ao Coração (1966), A Arte de Amar (1967, reunião de obras anteriores), Lira de Bolso (1969), Cancioneiro de Natal (1971, Prémio Nacional de Poesia), Matura Idade (1973), Sonetos do Cativo (1974), As Lições do Fogo (1976), Obra Poética (1980, inclui as obras À Guitarra e À Viola e Órfico Ofício), Os Ramos e os Remos (1985), Obra Poética, 1948-1988 (1988) e Música de Cama (1994, antologia erótica com um livro inédito). Ensaísta notável, escreveu Vinte Poetas Contemporâneos (1960), Motim Literário (1962), Hospital das Letras (1966), Discurso Directo (1969), Tópicos de Crítica e de História Literária (1969), Sobre Viventes (1976), Presença da «Presença» (1977), Lâmpadas no Escuro (1979), O Essencial Sobre Vitorino Nemésio (1987), Nos Passos de Pessoa (1988, Prémio Jacinto do Prado Coelho), Marguerite Yourcenar: Retrato de Uma Voz (1988), Sob o Mesmo Tecto: Estudos Sobre Autores de Língua Portuguesa (1989), Tópicos Recuperados (1992), Jogo de Espelhos (1993) e Magia, Palavra, Corpo: Perspectiva da Cultura de Língua Portuguesa (1989). Na ficção narrativa, estreou-se em 1959 com as novelas de Gaivotas em Terra (Prémio Ricardo Malheiros), os contos de Os Amantes (1968), e ainda As Quatro Estações (1980, Prémio da Crítica da Associação Internacional dos Críticos Literários), Um Amor Feliz, romance que o consagrou como ficcionista em 1986 e que lhe valeu vários prémios, entre os quais o Grande Prémio de Romance da APE e o Prémio de Narrativa do Pen Clube Português, e Duas Histórias de Lisboa (1987). Deixou ainda traduções e uma gravação discográfica de poemas seus intitulada «Um Monumento de Palavras» (1996). Alguns dos seus textos foram adaptados à televisão e ao cinema, como, por exemplo, Aos Costumes Disse Nada, em que se baseou José Fonseca e Costa para filmar, em 1983, «Sem Sombra de Pecado». David Mourão-Ferreira foi ainda autor de poemas para fados, muitos deles celebrizados por Amália Rodrigues, tal como «Madrugada de Alfama».
Recebeu, em 1996, o Prémio de Consagração de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores.

7 Comments:

  • :D
    optima escolha!
    aproveito para te desejar um optimo fim-de-semana!
    *

    ps-não estudes mto1!!

    By Blogger ricardo, at 17 junho, 2006 05:09  

  • Bonita homenagem. Gostei de ouvir Amália dizê-lo e também gosto de o ouvir na voz de Dulce Pontes. Bom fim de semana

    By Blogger JL, at 17 junho, 2006 16:01  

  • Lindo.
    bela homenagem
    Beijos e bom domingo

    By Blogger Carla, at 17 junho, 2006 16:36  

  • uma beijoka pra ti =)

    By Anonymous Anónimo, at 18 junho, 2006 13:59  

  • É uma boa Homenagem ana :)
    Gostei das palavras escritas,
    por vezes embarcamos nas palavras e sentimentos de outros,
    por vezes pinta mos o fundo do nosso acontecimento com pensares de outros,
    de uma coisa eu sei nós sim temos sentimentos únicos,mas por vezes lindos ;)
    Desculpa a minha ausência ana ;)
    desejo te uma boa semana ;)
    Um beijo ana ;)
    Sorri bastante,
    teu mar vai se encarregar de te trazer um White Boat á tua maré:)

    By Blogger João Leite Duque, at 18 junho, 2006 14:49  

  • Sempre gostei de David Mourão Ferreira.

    Bjs

    By Blogger Tita Dom, at 20 junho, 2006 05:33  

  • Não conhecia este poeta, obrigada pela pequena lição. Beijinhos... prometo em breve te responder a carta!

    By Blogger Vica, at 21 junho, 2006 13:36  

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